Quando se vê uma mulher grávida,
quase sempre se pergunta se ela sabe se é menino ou menina.
E quando ela ainda não tem essa
certeza, responde: Não importa
o que seja, desde que seja perfeito, com saúde.
Este é o anseio de todos os
pais. Assim também para aquele casal belga, na flor dos seus vinte anos.
Os filhos chegaram um a um,
sadios e tudo transcorria bem. Até que sua caçula Stephanie, aos três meses,
foi vítima da síndrome da morte súbita na infância.
Somente a fé cristã fortaleceu o
mundo abalado daquela família. Nada poderia trazer de volta sua filha, mas eles
se deram conta de quão preciosa era a vida de uma criança.
Tomaram uma resolução. Não foi
nada de momento. Deixaram passar quatro anos. Christiane deu a luz mais um
filho.
Então, resolveram que podiam
acolher em sua casa e amar uma criança que não tivesse família. Que não tivesse
quem a amasse.
Ao se inscreverem no programa de
adoção, seus nomes ficaram como os últimos de uma lista interminável.
Afinal, eles eram pais de três
crianças, saudáveis e felizes.
Mas, eles receberam Hélène, de
quatro anos. A pequena menina negra era cheia de vida e se uniu aos filhos do
casal: Davi, sete anos, Benoît, cinco e Nicolas, um ano.
Em seguida, um menino indiano,
com sequelas de poliomielite, chegou. Após várias cirurgias, verificou-se que
ele nunca voltaria a andar com suas próprias pernas.
E vieram os outros, do Brasil,
da Colômbia, de Camarões, do Haiti.
Dezenove filhos. Onze adotados.
Sete com deficiências físicas ou mentais, ou ambas.
Todos os dias letivos, pouco
depois das quatro da tarde, ônibus e carros chegavam de variadas escolas e
deixavam crianças na casa dos Boldos.
Correndo, mancando ou rolando em
cadeiras de rodas, elas entravam em casa para vasculhar a cozinha à procura de
petiscos, procurando mãe e pai para darem um abraço.
O tempo passou... Os filhos mais
velhos já têm suas vidas. Casados, com suas profissões, não perderam o contato
com a família.
Christiane, a mãe, tem uma
fórmula especial para definir a própria família: Ela foi construída pedra por pedra.
Uma criança era adotada,
outra nascia. As que estavam conosco achavam que essa era a ordem natural da
vida.
A família Boldo criou, na
Bélgica, uma fundação com o propósito de encontrar lares adotivos para crianças
órfãs com deficiência.
A média mensal inicial era
encontrar lares para uma ou duas crianças.
Plenamente envolvidos nesse
trabalho, os Boldo, em vinte anos, conduziram quatrocentas e dez crianças com
deficiências, de vinte países diferentes, a lares de famílias belgas.
E dizer que tudo começou pela
dolorosa perda de uma filha de apenas três meses de idade.
O amor é expressão superior que
motiva o ser a altos cumes.
Quando se apresenta, oferece
condições de superação de toda dor e permite ao sofredor vislumbrar o sol para
além da cortina das lágrimas.
Mais do que isso: confere-lhe
condições de encontrar almas mais sofridas que ele próprio e estender as mãos
para ajudá-las.
(Redação do
Momento Espírita, com base no artigo Um lar para os
filhos de ninguém, de Lawrence Elliott, da Revista Seleções Reader’s
Digest, de janeiro/2004)