A árvore que
produz maus frutos não é boa e a árvore que produz bons frutos não é má.
(Lucas, 6:43)
O discurso de
Jesus nesse tópico atingia mais profundidade, rumando para o Infinito, com
objetivo de consolidar os Seus ensinamentos e exarar condutas lúcidas em
relação ao futuro. As dificuldades vencidas a pouco e pouco, abriam espaço para
novos desafios, e as perspectivas se apresentavam complexas senão desafiadoras.
Preocupado com a
saúde integral dos Seus discípulos assim como daqueles que O seguiam, não podia
deixar de abordar a transcendência do Espírito e o seu relacionamento psíquico
com os homens terrestres.
Várias vezes,
eles testemunharam o fenômeno atormentado da obsessão sob diversos aspectos,
desde as convulsões de cunho epiléptico até
as enfermidades físicas, as subjugações amesquinhantes e as alucinações mais
frequentes. Também tomaram conhecimento da transfiguração diante de seres imortais
e esplendentes no Monte Tabor, deslumbrados e comovidos.
Tornava-se,
pois, indispensável desfazer a sombra coletiva, que pairava soberana sobre as
pessoas sem orientação.
O povo estava
tradicionalmente condicionado a aguardar que ocorressem espetáculos
sobrenaturais em volta dos Profetas e de todos aqueles
que se apresentavam em nome de Deus, como necessidade premente de manterem a
débil claridade da fé quase sempre
bruxuleante, que logo voltava a ser embrutecida pelas paixões decorrentes do
egotismo perverso cultivado em exagero.
Porque pairasse
um silêncio multissecular sobre o país a respeito do profetismo, quando antes
era habitual, ao revelar-se o Messias, todos desejavam que o demonstrasse sem
cessar, apesar dos inumeráveis sucessos que Ele produzia amiúde por onde
passava.
A sede de
novidades é sempre crescente nos indivíduos estúrdios e destituídos de
percuciência para a identificação dos valores eternos e nobres da vida,
permanecendo sem cessar à cata de distrações para fugirem da realidade de si
mesmos e dos desafios que os surpreendem a todo momento, convidando-os ao crescimento
interior.
Reconhecendo que
seria breve o trânsito terrestre, e que o embuste e a mentira seguiriam no Seu
encalço após a morte, foi peremptório, advertindo os amigos sobre a
possibilidade do surgimento de falsos profetas, qual ainda ocorre nos dias atuais...
Como
distingui-los? Quais os sinais de identificação que poderiam representar a sua
autenticidade? E, de imediato, a imagem da árvore foi tomada como significativa
e definidora da legitimidade de cada ser, irretorquível pelo seu conteúdo específico,
graças ao qual, a árvore que produz maus frutos não é boa e a árvore que produz
bons frutos não é má.
E óbvio que
somente através dos atos, que revelam os valores morais de cada criatura, se
pode avaliar se a mensagem de que alguém se faz portador é verdadeira.
Ninguém há que,
dominado pela sombra, possa desvelar significados profundos, somente
encontrados naquele que esteja identificado com
a Fonte do Bem.
Mediante a
conduta, portanto, os interesses e conveniências, se pode aquilatar sobre as
qualidades morais do ser humano, porquanto são-lhe o documento digno de fé.
A ausência da
sombra sempre favorece a presença do conhecimento e do discernimento, da ação
oposta ao egoísmo, produzindo harmonia interna e não ambição, não competitividade
vulgar e destruidora.
Autêntico em si
mesmo, reflete o Psiquismo Superior da Vida e arrebanha outras criaturas,
conduzindo-as na direção da plenitude, que já antegoza.
Adindo
esclarecimentos à lição neotestamentária, posteriormente o Apóstolo S. João, na
sua 1° Epístola, cap. IV, v.1, informou com sabedoria repassada de ternura:
- Meus
bem-amados, não creiais em qualquer Espírito; experimentai se os Espíritos são
de Deus, porquanto muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.
Justo confessar
que, já no seu tempo, surgiram os impostores, desejando orientar as massas e
auferir recursos para a sua sombra, responsável pelos transtornos que causavam.
Reconhecidos
pelo caráter doentio, assim mesmo prosseguiam enganando outros semelhantes, que
se compraziam nos jogos da mentira e da
disputa irresponsável, pelos prazeres do ego alucinado.
A imagem da
árvore é novamente trazida para avaliação, respondendo sabiamente a respeito da
qualidade de que se revestem as interferências espirituais, as profecias que se
referem à vida transcendental.
Nesse texto de
alta magnitude, a Psicologia Profunda cede lugar à análise da Psicologia
Transpessoal, porque mais compatível com a mensagem, que haure na Psicologia Espírita
a explicação clara e significativa, interpretando o fenômeno, na área da mediunidade,
que serve de instrumento para a pesquisa sobre a sobrevivência do ser à morte
física assim como a sua anterioridade ao berço, e, no intervalo entre uma e
outra existência, a comunicação real.
Esse capítulo
profundo da Psicologia Transpessoal ilumina-se com a constatação de que a
faculdade que permite o intercâmbio entre os dois planos vibratórios - o terrestre
e o espiritual - é da alma, que o corpo reveste de células para permitir a sua ocorrência.
É semelhante à inteligência que, de origem extrafísica, no soma encontra os
neurônios e outras moléculas especiais para a sua exteriorização.
Entre os
hebreus, o profetismo era relevante para caracterizar os enviados de Deus aos
homens e às mulheres. No entanto, não estava adstrito o seu significado
exclusivamente à produção de feitos excepcionais ou sobre-humanos.
Jesus, o Homem,
podia movimentar as energias e comandá-las, direcionando-as conforme a Sua
vontade.
Dialogava com os
Espíritos enfermos que a morte não libertara dos conflitos que os afligiram,
nem das paixões asselvajadas, conseguindo atendê-los e auxiliá-los nas aflições
em que se debatiam.
Adentrando-se
psiquicamente no futuro, descerrou então parte da cortina que o velava,
entreteceu considerações incomuns sobre o Seu ministério, morte e ressurreição,
apresentando no futuro as consequências da insânia e da soberba humana, conforme
o Seu sermão profético, que se tem cumprido desde o momento da destruição do
Templo de Jerusalém, que fora previsto, até à Diáspora, e dali aos
acontecimentos históricos, que se hão apresentado na sucessão dos séculos.
A mediunidade,
portanto, é de essência espiritual, exteriorizando-se sob a interferência e
direcionamento dos Espíritos que, de acordo com a sua procedência, semeiam sombras
e aturdimentos, enfermidades e desaires ou luz mirífica de esclarecimento, de
caridade, de amor.
A Psicologia
Profunda reconhece-Lhe o poder, em face da Sua integração na Consciência
Cósmica, na qual adquiria sabedoria e
renovava as
energias em intercâmbio transcendente, inabitual para os seres humanos.
A sombra
coletiva, no entanto, prossegue inquietando, e os indivíduos, açodados pelo ego
não superado, esperam o Messias que os liberte dos vícios e da indolência sem o
auto esforço, que lhes conceda felicidade sem a ocorrência de vexames, sem
lutas, esquecendo-se que, mesmo que tal absurdo se fizesse normal, não poderia
impedir-lhes a ocorrência da morte física, o enfrentamento com a
autoconsciência e com a Realidade.
Para atendê-los,
no turbilhão das aventuras do cotidiano, surgem e são celebrizados homens e
mulheres prodigiosos, que se afirmam profetas e Cristos, capazes de solucionar
os problemas gerais, menos os próprios, nos quais estorcegam em desespero
insano.
A árvore,
representando a anima da mediunidade, oferece o fruto, seu animus, em perfeita
identidade. Uma e outro definem pela produção a qualidade que os constitui.
O profeta e as
suas revelações, o animus e a anima da imagem elucidadora, compõem a unidade
que, pela qualidade demonstrará se a sua é uma origem saudável, verdadeira ou enfermiça
da sombra mentirosa e petulante.
Jesus assimilou
as ideologias vigentes naqueles dias, mas não se deteve nelas, pelo contrário,
ergueu-lhes o véu que as deixava sob trevas, referindo-se à necessidade da
conquista desse sentido paranormal, que se encontra inato nos seres humanos, a
fim de que possam superar os limites em que se debatem, ampliando-lhes as
percepções psíquicas, morais e emocionais.
O ser real, à
luz da Psicologia Espírita, é eterno, experienciando inumeráveis renascimentos
físicos e evoluindo no rumo da Grande Luz, que o impregnará com a claridade da
paz.
Por essa razão,
a árvore que produz maus frutos não é boa e a árvore que produz bons frutos não
é má, prosseguindo como lição psicológica de seleção de valores humanos,
auxiliando a que sejam identificados e reconhecidos os verdadeiros profetas –
os médiuns das verdades espirituais - e que, através dos seus atos sem sombra,
mereçam respeito e consideração ou simplesmente compaixão e socorro.
(Do livro "O Evangelho à Luz da Psicologia Profunda", Joanna de Angelis, psicografia de Divaldo P. Franco, FEB)