sexta-feira, 3 de julho de 2015

MEDIUNIDADE

A árvore que produz maus frutos não é boa e a árvore que produz bons frutos não é má.

(Lucas, 6:43)



O discurso de Jesus nesse tópico atingia mais profundidade, rumando para o Infinito, com objetivo de consolidar os Seus ensinamentos e exarar condutas lúcidas em relação ao futuro. As dificuldades vencidas a pouco e pouco, abriam espaço para novos desafios, e as perspectivas se apresentavam complexas senão desafiadoras.
Preocupado com a saúde integral dos Seus discípulos assim como daqueles que O seguiam, não podia deixar de abordar a transcendência do Espírito e o seu relacionamento psíquico com os homens terrestres.
Várias vezes, eles testemunharam o fenômeno atormentado da obsessão sob diversos aspectos, desde as convulsões de cunho epiléptico até as enfermidades físicas, as subjugações amesquinhantes e as alucinações mais frequentes. Também tomaram conhecimento da transfiguração diante de seres imortais e esplendentes no Monte Tabor, deslumbrados e comovidos.
Tornava-se, pois, indispensável desfazer a sombra coletiva, que pairava soberana sobre as pessoas sem orientação.
O povo estava tradicionalmente condicionado a aguardar que ocorressem espetáculos sobrenaturais em volta dos Profetas e de todos aqueles que se apresentavam em nome de Deus, como necessidade premente de manterem a débil claridade da fé quase sempre bruxuleante, que logo voltava a ser embrutecida pelas paixões decorrentes do egotismo perverso cultivado em exagero.
Porque pairasse um silêncio multissecular sobre o país a respeito do profetismo, quando antes era habitual, ao revelar-se o Messias, todos desejavam que o demonstrasse sem cessar, apesar dos inumeráveis sucessos que Ele produzia amiúde por onde passava.
A sede de novidades é sempre crescente nos indivíduos estúrdios e destituídos de percuciência para a identificação dos valores eternos e nobres da vida, permanecendo sem cessar à cata de distrações para fugirem da realidade de si mesmos e dos desafios que os surpreendem a todo momento, convidando-os ao crescimento interior.
Reconhecendo que seria breve o trânsito terrestre, e que o embuste e a mentira seguiriam no Seu encalço após a morte, foi peremptório, advertindo os amigos sobre a possibilidade do surgimento de falsos profetas, qual ainda ocorre nos dias atuais...
Como distingui-los? Quais os sinais de identificação que poderiam representar a sua autenticidade? E, de imediato, a imagem da árvore foi tomada como significativa e definidora da legitimidade de cada ser, irretorquível pelo seu conteúdo específico, graças ao qual, a árvore que produz maus frutos não é boa e a árvore que produz bons frutos não é má.
E óbvio que somente através dos atos, que revelam os valores morais de cada criatura, se pode avaliar se a mensagem de que alguém se faz portador é verdadeira.
Ninguém há que, dominado pela sombra, possa desvelar significados profundos, somente encontrados naquele que esteja identificado com a Fonte do Bem.
Mediante a conduta, portanto, os interesses e conveniências, se pode aquilatar sobre as qualidades morais do ser humano, porquanto são-lhe o documento digno de fé.
A ausência da sombra sempre favorece a presença do conhecimento e do discernimento, da ação oposta ao egoísmo, produzindo harmonia interna e não ambição, não competitividade vulgar e destruidora.
Autêntico em si mesmo, reflete o Psiquismo Superior da Vida e arrebanha outras criaturas, conduzindo-as na direção da plenitude, que já antegoza.
Adindo esclarecimentos à lição neotestamentária, posteriormente o Apóstolo S. João, na sua 1° Epístola, cap. IV, v.1, informou com sabedoria repassada de ternura:
- Meus bem-amados, não creiais em qualquer Espírito; experimentai se os Espíritos são de Deus, porquanto muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.
Justo confessar que, já no seu tempo, surgiram os impostores, desejando orientar as massas e auferir recursos para a sua sombra, responsável pelos transtornos que causavam.
Reconhecidos pelo caráter doentio, assim mesmo prosseguiam enganando outros semelhantes, que se compraziam nos jogos da mentira e da disputa irresponsável, pelos prazeres do ego alucinado.
A imagem da árvore é novamente trazida para avaliação, respondendo sabiamente a respeito da qualidade de que se revestem as interferências espirituais, as profecias que se referem à vida transcendental.
Nesse texto de alta magnitude, a Psicologia Profunda cede lugar à análise da Psicologia Transpessoal, porque mais compatível com a mensagem, que haure na Psicologia Espírita a explicação clara e significativa, interpretando o fenômeno, na área da mediunidade, que serve de instrumento para a pesquisa sobre a sobrevivência do ser à morte física assim como a sua anterioridade ao berço, e, no intervalo entre uma e outra existência, a comunicação real.
Esse capítulo profundo da Psicologia Transpessoal ilumina-se com a constatação de que a faculdade que permite o intercâmbio entre os dois planos vibratórios - o terrestre e o espiritual - é da alma, que o corpo reveste de células para permitir a sua ocorrência. É semelhante à inteligência que, de origem extrafísica, no soma encontra os neurônios e outras moléculas especiais para a sua exteriorização.
Entre os hebreus, o profetismo era relevante para caracterizar os enviados de Deus aos homens e às mulheres. No entanto, não estava adstrito o seu significado exclusivamente à produção de feitos excepcionais ou sobre-humanos.
Jesus, o Homem, podia movimentar as energias e comandá-las, direcionando-as conforme a Sua vontade.
Dialogava com os Espíritos enfermos que a morte não libertara dos conflitos que os afligiram, nem das paixões asselvajadas, conseguindo atendê-los e auxiliá-los nas aflições em que se debatiam.
Adentrando-se psiquicamente no futuro, descerrou então parte da cortina que o velava, entreteceu considerações incomuns sobre o Seu ministério, morte e ressurreição, apresentando no futuro as consequências da insânia e da soberba humana, conforme o Seu sermão profético, que se tem cumprido desde o momento da destruição do Templo de Jerusalém, que fora previsto, até à Diáspora, e dali aos acontecimentos históricos, que se hão apresentado na sucessão dos séculos.
A mediunidade, portanto, é de essência espiritual, exteriorizando-se sob a interferência e direcionamento dos Espíritos que, de acordo com a sua procedência, semeiam sombras e aturdimentos, enfermidades e desaires ou luz mirífica de esclarecimento, de caridade, de amor.
A Psicologia Profunda reconhece-Lhe o poder, em face da Sua integração na Consciência Cósmica, na qual adquiria sabedoria e
renovava as energias em intercâmbio transcendente, inabitual para os seres humanos.
A sombra coletiva, no entanto, prossegue inquietando, e os indivíduos, açodados pelo ego não superado, esperam o Messias que os liberte dos vícios e da indolência sem o auto esforço, que lhes conceda felicidade sem a ocorrência de vexames, sem lutas, esquecendo-se que, mesmo que tal absurdo se fizesse normal, não poderia impedir-lhes a ocorrência da morte física, o enfrentamento com a autoconsciência e com a Realidade.
Para atendê-los, no turbilhão das aventuras do cotidiano, surgem e são celebrizados homens e mulheres prodigiosos, que se afirmam profetas e Cristos, capazes de solucionar os problemas gerais, menos os próprios, nos quais estorcegam em desespero insano.
A árvore, representando a anima da mediunidade, oferece o fruto, seu animus, em perfeita identidade. Uma e outro definem pela produção a qualidade que os constitui.
O profeta e as suas revelações, o animus e a anima da imagem elucidadora, compõem a unidade que, pela qualidade demonstrará se a sua é uma origem saudável, verdadeira ou enfermiça da sombra mentirosa e petulante.
Jesus assimilou as ideologias vigentes naqueles dias, mas não se deteve nelas, pelo contrário, ergueu-lhes o véu que as deixava sob trevas, referindo-se à necessidade da conquista desse sentido paranormal, que se encontra inato nos seres humanos, a fim de que possam superar os limites em que se debatem, ampliando-lhes as percepções psíquicas, morais e emocionais.
O ser real, à luz da Psicologia Espírita, é eterno, experienciando inumeráveis renascimentos físicos e evoluindo no rumo da Grande Luz, que o impregnará com a claridade da paz.
Por essa razão, a árvore que produz maus frutos não é boa e a árvore que produz bons frutos não é má, prosseguindo como lição psicológica de seleção de valores humanos, auxiliando a que sejam identificados e reconhecidos os verdadeiros profetas – os médiuns das verdades espirituais - e que, através dos seus atos sem sombra, mereçam respeito e consideração ou simplesmente compaixão e socorro.

(Do livro "O Evangelho à Luz da Psicologia Profunda", Joanna de Angelis, psicografia de Divaldo P. Franco, FEB)



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