sexta-feira, 27 de abril de 2012

Retrato de Mãe



Maria Dolores

Depois de muito tempo,
sobre os quadros sombrios do calvário.
Judas, cego no além, errava solitário...
Era triste a paisagem, o céu era nevoento...

Cansado de remorso e sofrimento,
Sentara-se a chorar...
Nisso, nobre mulher de planos superiores,
Nimbada de celestes esplendores,
Que ele não conseguia divisar,
Chega e afaga a cabeça do infeliz.
Em seguida, num tom de carinho profundo,
Quase que em oração ela diz:
- meu filho, porque choras?

Acaso não sabeis? – replica o interpelado,
Claramente agressivo.
Sou um morto e estou vivo.
Matei-me e novamente estou de pé,
Sem consolo, sem lar, sem amor e sem fé...
Não ouvistes falar em Judas, o traidor?
Sou eu que aniquilei a vida do senhor...
A princípio, julguei poder fazê-lo rei,
Mas apenas lhe impus, sacrifício, martírio, sangue e cruz.
E em flagelo e aflição
Eis que a minha vida agora se reduz...
Afastai-vos de mim,
Deixai-me padecer neste inferno sem fim...
Nada me pergunteis, retirai-vos senhora,
Nada sabeis da mágoa que me agita...
O assunto que lastimo é unicamente meu...

No entanto a dama calma respondeu:
- meu filho, sei que choras, sei que lutas,
Sei a dor que causa o remorso que escutas...
Venho apenas falar-te
Que Deus é sempre amor em toda parte...
E acrescentou serena:
- a bondade de Deus jamais condena:
Venho por mãe a ti, buscando um filho amado.
Sofre com paciência a dor e a prova.
Terás em breve, uma existência nova...
Não te sintas sozinho ou desprezado!

Judas interrompeu-a e bradou, rude e pasmo:
- mãe? Não me venhais aqui com mentira e sarcasmo.
Depois de me enforcar num galho de figueira,
Para acordar na dor,
Sem mais poder fugir à vida verdadeira.
Fui procurar consolo e força de viver.
Ao pé da pobre mãe que me forjara o ser!...
Ela me viu chorando e escutou meus lamentos.
Mas teve medo dos meus sofrimentos.
Expulsou-me a esconjuros,
Chamou-me monstro, por sinal
Disse que eu era
Unicamente o espírito do mal,
Intimidou-me a terrível retrocesso,
Mandando que apressasse o meu regresso
Para a zona infernal de onde eu vinha...
Ah! Detesto lembrar a horrível mãe que eu tinha...
Não me faleis de mães, não me faleis de amor,
Sou apenas um monstro sofredor...
Inda assim – disse a dama docemente:
- por mais recuses, não me altero,
Amo-te filho meu, amo-te e quero
Ver-te de novo a vida
Maravilhosamente revestida
De paz e luz, de fé e elevação...
Virás comigo à terra,
Perderás pouco a pouco, o ânimo violento,
Terás o coração
Nas águas de bendito esquecimento.
Numa existência de esperança,
Levar-te-ei comigo
A remansoso abrigo.
Dar-te-ei outra mãe! Pensa e descansa!...

E Judas neste instante.
Como quem olvidasse a própria dor gigante,
Ou como quem se desgarra
De pesadelo atroz,
Perguntou: - quem sois vós?
Que me falais assim, sabendo-me traidor?
Sois divina mulher, irradiando amor,
Ou anjo celestial de quem pressinto a luz?

No entanto ela a fitá-lo frente a frente,
Respondeu simplesmente:
Meu filho, eu sou a mãe de Jesus!


(Extraído do livro: "Momentos de Ouro", psicografia de Chico Xavier, diversos espíritos)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

O Tempo


"Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz.” – Paulo. (Romanos, 14:6.)"

A maioria dos homens não percebe ainda os valores infinitos do tempo.

Existem efetivamente os que abusam dessa concessão divina. Julgam que a riqueza dos benefícios lhes é devida por Deus.
Seria justo, entretanto, interrogá-los quanto ao motivo de semelhante presunção.

Constituindo a Criação Universal patrimônio comum, é razoável que todos gozem as possibilidades da vida; contudo, de modo geral, a criatura não medita na harmonia das circunstâncias que se ajustam na Terra, em favor de seu aperfeiçoamento espiritual.
É lógico que todo homem conte com o tempo, mas, se esse tempo estiver sem luz, sem equilíbrio, sem saúde, sem trabalho?

Não obstante a oportunidade da indagação, importa considerar que muito raros são aqueles que valorizam o dia, multiplicando-se em toda parte as fileiras dos que procuram aniquilá-lo de qualquer forma.
A velha expressão popular “matar o tempo” reflete a inconsciência vulgar, nesse sentido.

Nos mais obscuros recantos da Terra, há criaturas exterminando possibilidades sagradas. No entanto, um dia de paz, harmonia e iluminação, é muito importante para o concurso humano, na execução das leis divinas.
Os interesses imediatistas do mundo clamam que o “tempo é dinheiro”, para, em seguida, recomeçarem todas as obras incompletas na esteira das reencarnações... Os homens, por isso mesmo, fazem e desfazem, constroem e destroem, aprendem levianamente e recapitulam com dificuldade, na conquista da experiência.

Em quase todos os setores de evolução terrestre, vemos o abuso da oportunidade complicando os caminhos da vida; entretanto, desde muitos séculos, o apóstolo nos afirma que o tempo deve ser do Senhor.

(Do Livro "Caminho, Verdade e Vida", de Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, editado pela FEB)

terça-feira, 3 de abril de 2012

Ensino Espírita


Se abraçaste na Doutrina Espírita o roteiro da própria renovação, em toda parte és naturalmente chamado a fixar-lhe os ensinos.

Administrador, não te limitarás ao controle de patrimônios físicos, porque saberás aplicá-los no bem de todos.

Legislador, não te guardarás na galeria dos privilégios, porque humanizarás os estatutos do povo.

Juiz, não te enquistarás na autoridade de convenção, porque serás em ti mesmo a garantia do Direito correto.

Médico, não estarás circunscrito ao órgão enfermo, porque auscultarás, igualmente, a alma que sofre.

Professor, não terás nos discípulos meros associados no estudo dos números e das letras, mas verdadeiros filhos do coração.

Negociante, não farás do comércio a feira dos interesses inferiores, mas a escola da fraternidade e do auxílio.

Operário, não furtarás o tempo, no exercício da rebeldia, mas vigiarás, satisfeito, o desempenho das próprias obrigações.

Lavrador, não serás sanguessuga insaciável da terra, mas recolher-lhe-ás os produtos, ajudando-a, nobremente, a reverdecer e florir.

Seja qual for a profissão em que te situes, vives convidado a enobrecê-la com o selo de tua fé, moldada nos valores humanos, porquanto, na responsabilidade espírita, toda ação no bem precisa ultrapassar o dever para que o ato de servir se converta em amor.

Hoje e agora, onde estivermos, segundo os nossos princípios, somos constantemente induzidos a lecionar disciplinas de entendimento e conduta.

Aqui é a solidariedade, ali é a fidelidade aos compromissos, adiante é a compreensão, mais além, é a renúncia...

Aqui é o devotamento ao trabalho, ali é a paciência, adiante é o perdão incondicional, mais além é o espírito de sacrifício...

Doutrina Espírita, na essência, é universidade de redenção.

E cada um de seus profitentes ou alunos, por força da obrigação no burilamento interior, é obrigado a educar-se para educar.

É por isso que, se lhe esposaste as tarefas, seja esse ou aquele o setor de tuas atividades, estarás, cada dia, ensinando o caminho da elevação, na cadeira do exemplo.

(Página do livro "Seara dos Médiuns", de Emmanuel, psicografia de Chico Xavier)